Nem todos os atletas conseguem se tornar grandes estrelas do esporte ou viver exclusivamente de premiações e salários esportivos. Diante desse cenário, cresce no Brasil e no exterior um movimento que chama atenção: atletas e ex-atletas estão encontrando nas plataformas de conteúdo adulto, como OnlyFans e Privacy, uma nova forma de renda. Com corpos definidos e grande presença nas redes sociais, muitos têm alcançado faturamentos expressivos, sem necessariamente publicar nudez explícita.
O fenômeno envolve esportistas de diferentes modalidades, idades e países. Para alguns, o conteúdo adulto se tornou complemento financeiro. Para outros, a principal fonte de sustento ou até o meio para seguir investindo na carreira esportiva. O debate envolve liberdade econômica, estigmas, limites institucionais e a relação entre esporte, imagem e mercado digital.
Corpo, visibilidade e monetização
A popularização das plataformas de assinatura permitiu que atletas explorassem a própria imagem de forma direta, sem intermediários. Em muitos casos, o apelo está mais na sensualidade e no lifestyle do que na nudez. A exposição, porém, ainda gera controvérsia, especialmente quando envolve esportistas em atividade.
A seguir, alguns dos casos mais conhecidos e bem-sucedidos dessa tendência.
Key Alves
Com 25 anos, a jogadora de vôlei ganhou projeção nacional após participar do BBB 23. Conhecida como a atleta de vôlei mais seguida do mundo, Key soma mais de 16 milhões de seguidores no Instagram. Atualmente grávida, ela atua pela LOVB, liga recém-criada nos Estados Unidos, e mantém presença forte em plataformas de conteúdo adulto, onde explora principalmente a sensualidade.
Igor Nova
Vice-campeão brasileiro de ciclismo por equipes, Igor Nova causou repercussão em 2024 ao participar de um vídeo de conteúdo adulto gay. O atleta afirma que usa o dinheiro arrecadado para financiar o sonho de disputar os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028.
“Para correr é preciso ter dinheiro. A parte boa é que o shape se mantém sempre”, escreveu em uma publicação.
Alysha Newman
A canadense Alysha Newman, de 31 anos, conquistou o bronze no salto com vara nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. Ela revelou que o dinheiro obtido no OnlyFans foi usado para comprar uma propriedade.
“Eu nunca entendi como atletas amadores não conseguem ganhar dinheiro. Foi aí que minhas habilidades de empreender entraram em ação”, afirmou.
Fábio Braz
Ex-jogador de futebol com passagens por Vasco e Corinthians, Fábio Braz, hoje com 47 anos, produz conteúdo adulto voltado majoritariamente para o público gay. Em entrevista, afirmou que seu sucesso se deve à autenticidade e à boa forma física mantida após a carreira nos gramados.
Matthew Mitcham
Medalhista olímpico de ouro no salto ornamental em Pequim, 2008, Matthew Mitcham foi o primeiro campeão olímpico assumidamente gay. Após encerrar a carreira, passou a atuar como criador de conteúdo adulto e ator em produções para maiores de 18 anos, como a peça “Jock Play”.
Paige VanZant
Ex-lutadora do UFC, Paige VanZant também ganhou notoriedade fora do octógono. Participou do programa “Dancing with the Stars” e, em 2024, foi capa da edição sueca da Playboy.
“Nunca me senti tão eu”, declarou à revista.
Marcela Soares
A atleta de futsal Marcela Soares, de 21 anos, foi desligada do clube após começar a produzir conteúdo adulto. Atualmente, afirma faturar cerca de R$ 55 mil por mês com plataformas digitais.
“Ganhei liberdade e independência financeira. Hoje me sinto mais forte”, disse. Em redes sociais, ela exibe conquistas materiais, como o carro recém-comprado.
Renee Gracie
Piloto australiana, Renee Gracie competiu em categorias como kart, Porsche Carrera Cup e GT World Challenge Australia. Patrocinada pelo OnlyFans, ela afirma já ter faturado cerca de US$ 6 milhões com conteúdo adulto, enquanto segue ativa no automobilismo.
Jack Laugher
Medalhista olímpico no salto ornamental, o britânico Jack Laugher mantém perfil no OnlyFans, mas sem nudez explícita.
“No meu perfil está claro que não há nudez. O esporte ainda é o principal”, afirmou ao jornal The Sun.
Elise Christie
Campeã mundial de patinação de velocidade em pista curta, Elise Christie competiu em três edições dos Jogos Olímpicos de Inverno. Após encerrar a carreira por lesão, encontrou no conteúdo adulto uma nova fonte de renda.
“Trabalhei a vida inteira e acabei sem dinheiro. Hoje ganho mais do que quando tinha três empregos”, relatou.
Novo mercado, velhos preconceitos
O crescimento desse modelo expõe um debate ainda sensível no esporte: até que ponto a vida fora das competições pode ser regulada? Para muitos atletas, as plataformas representam autonomia financeira e liberdade. Para outros, ainda há resistência institucional e julgamento público.
O fato é que, em um cenário de altos custos, poucas garantias e carreiras curtas, o corpo deixou de ser apenas instrumento de performance e passou a ser também ativo econômico.

