O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta segunda-feira (22) que a FDA, agência reguladora de medicamentos do país, vai orientar médicos sobre um suposto risco aumentado de autismo em crianças expostas ao paracetamol durante a gestação. Segundo ele, as grávidas deveriam evitar o uso do medicamento, exceto em casos “estritamente necessários”. A fala provocou reação imediata de especialistas, que afirmam não haver comprovação científica dessa relação.
O que disse Trump
Durante o anúncio, Trump repetiu que “tomar Tylenol não é bom”, em referência ao paracetamol, amplamente comercializado nos Estados Unidos com essa marca. Ele também defendeu o uso da leucovorina — uma forma de ácido fólico utilizada em alguns tratamentos oncológicos — como possível terapia para sintomas de autismo, embora não haja estudos robustos que confirmem sua eficácia para esse fim.
Paracetamol e gestação
O paracetamol é um dos analgésicos e antitérmicos mais usados no mundo, considerado seguro durante a gravidez quando administrado sob prescrição médica. Autoridades médicas ressaltam que gestantes não devem utilizar anti-inflamatórios não esteroidais, como ibuprofeno, o que faz do paracetamol a opção mais indicada.
Estudos recentes investigaram possíveis impactos do remédio no desenvolvimento fetal, mas não há consenso. Pesquisadores de Harvard revisaram 46 trabalhos sobre o tema e encontraram indícios de associação com autismo ou TDAH em parte deles, mas sem prova de causalidade.
Reação da comunidade científica
A Kenvue, fabricante do Tylenol, afirmou que “não há base científica” para as declarações de Trump. O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia reforçou que estudos disponíveis até agora não comprovam relação entre o uso prudente do paracetamol na gravidez e problemas no desenvolvimento dos bebês.
O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido também recomenda o medicamento como “primeira escolha” para gestantes. Médicos alertam, ainda, que não tratar febres na gravidez pode trazer riscos graves, como parto prematuro e aborto espontâneo.
O que dizem os especialistas sobre o autismo
Pesquisadores lembram que o autismo tem origem principalmente genética, embora fatores ambientais possam influenciar. Estudos populacionais de larga escala, como um publicado na revista científica JAMA com dados de 2,5 milhões de crianças na Suécia, não encontraram evidências de relação entre o paracetamol na gestação e transtornos do neurodesenvolvimento.
Segundo especialistas, a associação observada em pesquisas menores pode refletir fatores de confusão — como infecções durante a gestação, que motivam o uso do remédio — e não uma relação de causa e efeito.