Uma pesquisa do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) revelou um cenário crítico na saúde pública e privada do Estado: 84% dos médicos entrevistados afirmam já ter sido vítimas de algum tipo de violência. O levantamento, realizado entre agosto de 2024 e agosto de 2025, ouviu 333 profissionais e registrou episódios que vão de agressões verbais e físicas a assédio moral e sexual, além de condições precárias de trabalho e exploração profissional. O CRM-ES já prepara um plano de ação para enfrentar o problema.
Violência recorrente e impacto na vida profissional
Entre os respondentes, 46,2% relataram ter sofrido agressões entre duas e cinco vezes. Para 18,3%, os episódios passaram de cinco ocorrências. Já 11,1% dizem enfrentar violência de forma constante.
O levantamento mostra ainda que 67% dos médicos entrevistados são mulheres, e 53% têm menos de cinco anos de formados. Esse recorte expõe situações de assédio, discriminação de gênero e etarismo.
Um dos relatos incluídos no estudo evidencia o impacto emocional e profissional:
“Parei de dar plantão por medo de agressão. Eu, médica mulher, fui assediada por pacientes diversas vezes e também em unidade básica fui agredida verbalmente e quase fisicamente. Por medo, mudei de cidade.”
Tipos de violência mais comuns
Os casos registrados incluem:
- Agressões verbais e físicas
- Assédio moral e sexual
- Depredação de consultórios
- Necessidade de acionamento da polícia
- Profissionais que abandonaram plantões ou a carreira por insegurança
Estrutura precária e jornadas exaustivas
A pesquisa também aponta condições de trabalho desumanas, como ausência de água potável, falta de materiais básicos de higiene, déficit de equipes e pressão para atendimentos em tempo insuficiente. Muitos apontam ainda jornadas extensas e salários defasados.
Atestados e demora no atendimento como principais gatilhos
De acordo com o CRM-ES, dois fatores aparecem como os maiores detonadores de conflitos:
- Recusa de atestados sem indicação clínica
- Tempo de espera por atendimento
Exploração na contratação via Pessoa Jurídica
Outra queixa recorrente é a exigência de contratação como pessoa jurídica (PJ). Segundo os médicos, empresas intermediárias ficam com a maior parte dos repasses, o que reduz a remuneração e amplia a insegurança financeira.
Ações do CRM-ES
O Conselho informou que irá adotar um plano de ação imediato, com articulação entre gestores públicos, Ministério Público e parlamentares. Entre as propostas estão:
Medidas em estudo
- Projeto de Lei na Assembleia Legislativa exigindo segurança pessoal em unidades públicas de saúde.
- Ofícios ao Ministério Público e a órgãos estaduais e municipais solicitando reforço na proteção, botão do pânico e divulgação de que agressões a servidores públicos são crime.
- Interdição ética de unidades com episódios recorrentes de violência.
O presidente do CRM-ES, Dr. Fernando Tonelli, afirma que os dados apontam uma crise urgente:
“A pesquisa é um grito de socorro. Nossos médicos estão sendo explorados, coagidos e agredidos diariamente, e sentem-se desamparados. O CRM-ES não se limitará a um post de repúdio. Usaremos esses dados para pressionar as autoridades e garantir o respeito, a segurança e as condições de trabalho dignas que a classe médica merece.”
O Conselho reforça que seguirá oferecendo apoio aos profissionais e atuando para evitar que a medicina no Espírito Santo se torne uma profissão marcada pelo medo.

